terça-feira, 17 de março de 2009

Da chegada do amor

Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse.
Sempre quis um amor que elaborasse.
Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono
e trouxesse beijo no clarão da amanhecice.

Sempre quis um amor que coubesse no que me disse.
Sempre quis uma meninice entre menino e senhor
uma cachorrice
onde tanto pudesse a sem-vergonhice
do macho
quanto a sabedoria do sabedor.

Sempre quis um amor cujo
BOM DIA!
morasse na eternidade de encadear os tempos:
passado presente futuro
coisa da mesma embocadura
sabor da mesma golada.
Sempre quis um amor de goleadas
cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse.
Sempre quis um amor
que não se incomodasse
quando a poesia da cama me levasse.
Sempre quis uma amor
que não se chateasse diante das diferenças.

Agora, diante da encomenda
metade de mim rasga afoita
o embrulho
e a outra metade é o futuro de saber o segredo
que enrola o laço,
é observar o desenho do invólucro
e compará-lo
com a calma da alma o seu conteúdo.
Contudo sempre quis um amor
que me coubesse futuro
e me alternasse em menina e adulto
que ora eu fosse o fácil, o sério
e ora um doce mistério
que ora eu fosse medo-asneira
e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor,
sempre quis um amorque sem tensa-corrida-de ocorresse.
Sempre quis um amor que acontecesse
sem esforço
sem medo da inspiração
por ele acabar.
Sempre quis um amor de abafar,
(não o caso)
mas cuja demora de acaso
estivesse imensamente nas nossas mãos.
Sem senãos.
Sempre quis um amor
com definição de quero
sem o lero-lero da falsa sedução.
Eu sempre disse não à constituição dos séculos
que diz que o "garantido" amor
é a sua negação.
Sempre quis um amor
que gozasse
e que pouco antes
de chegar a esse céu
se anunciasse.

Sempre quis um amor
que vivesse a felicidade
sem reclamar dela ou disso.
Sempre quis um amor não omisso
e que sua estórias me contasse.
Ah, eu sempre quis um amor que amasse.

Elisa Lucinda